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Canção de Protesto e Mudança Social
Conferência Internacional
15 a 17 de Junho de 2016
David Anthony McDonald é Professor Auxiliar de Etnomusicologia e de Antropologia na Indiana University. Desde 2000 McDonald tem trabalhado junto de comunidades de refugiados palestinianos dispersas em Israel, na Jordânia e nos Territórios Ocupados. O seu estudo envolve especialmente o entendimento das dinâmicas culturais das canções de protesto, da violência, do trauma e da masculinidade. O seu livro mais recente, My Voice is My Weapon (2013 Duke University Press), foi premiado com o prestigiado Chicago Folklore Prize, para a melhor obra longa em livro académica sobre folclore. É também co-editor de Palestinian Music and Song: Expression and Resistance since 1900 (2013 Indiana University Press). Em 2013 o seu artigo "Imaginaries of Exile and Emergence" foi premiado com o Jaap Kunst Prize pela Society for Ethnomusicology reconhecendo o melhor artigo na disciplina. Atualmente escreve uma etnografia das experiências palestino-americanas contempo-râneas pós-911, focando o julgamento da Fundação da Terra Santa e o seu impacto na comunidade palestiniana de Dallas/Fort Worth, Texas.
A Minha Voz é a Minha Arma:
A Canção de Protesto e o Movimento Nacional Palestiniano
Nos últimos 60 anos, os etnomusicólogos têm-se fascinado com as dinâmica da performação musical e do envolvimento político. No entanto, apesar do interesse generalizado nas chamadas "artes de resistência", está por emergir ainda plenamente uma teoria amplamente compreendida e aplicável sobre as dinâmicas e a eficácia da canção política de protesto. Nesta palestra, exploro criticamente a história convencional da crise Israelo-Palestiniana através de uma análise etnográfica da música e dos músicos, das canções de protesto e doutras práticas culturais populares. Com base nesta história, defendo que uma teorização em sentido lato da canção política de protesto é extremamente necessária, não só para fazer avançar o nosso pensamento acerca das dinâmicas da performação musical e do compromisso político, mas também para promover a nossa compreensão acerca das capacidades alargadas pró-sociais e de formação de grupo, do pensamento e do comportamento musical. A partir da ilustração do trabalho de vários artistas e ativistas palestinianos, concluo pela averiguação dos usos e funções contemporâneos da canção de protesto popular no movimento nacional palestiniano, abordando o discurso alargado de resistência, bem como as dinâmicas performativas do engajamento político transgressivo.
David McDonald
15 de Junho - A Minha Voz é a Minha Arma:
A Canção de Protesto e o Movimento Nacional Palestiniano
Michael Frishkopf
16 de Junho - O canto na música, desporto, ritual e política:
traçando o poder da canção de protesto,
na Revolução do Egito, 2011, e para além dela
Michael Frishkopf é Professor de Música, Diretor Associado do Centro de Etnomusicologia Canadiano, e Investigador bolseiro folkwaysAlive! na Universidade de Alberta. O seu estudo foca-se na música e sons do Islão, do mundo árabe e da África Ocidental. Os seus interesses de investigação incluem também música para o desenvolvimento, teoria de redes sociais, repositórios de música digital e música no cibermundo. Integra a equipa do projeto colaborativo financiado pelo Social Sciences and Humanities Research Council (SSHRC) Music and Architecture in the Muslim World, centrado na interseção de paisagens sonoras e visuais do mundo muçulmano. As suas prooduções recentes incluem a coleção editada Music and Media in the Arab World, um video colaborativo, Songs of the New Arab Revolutions, dois discos compactos de música em suporte do desenvolvimento da África Ocidental, uma série intitulada Songs for sustainable development and peace, e numerosos artigos e capítulos de livros, incluindo o próximo “Venerating Cairo’s saints through music and monument.” Frishkopf tem recebido bolsas de investigação de relevo do SSRHC, da Canadian Heritage Information Network, do American Research Center no Egipto, do Social Science Research Council (EUA), do Programa Fulbright, da Woodrow Wilson Foundation, e do National Endowment for the Humanities (NEH).
O canto na música, desporto, ritual e política:
traçando o poder da canção de protesto,
na Revolução do Egito, 2011, e para além dela
Na véspera da Revolução de 2011 no Egito, o cantor Ramy Essam transformou-os em canção de protesto. Mais tarde, as claques de futebol transformaram cânticos desportivos em cantos políticos e Ramy transformou estes em canções também. Slogans religiosos cantados são igualmente poderosos na arena política. A minha apresentação aborda as seguintes questões: Qual é a essência do canto? Porque são os cânticos tão poderosos através de múltiplos domínios - incluindo música, desporto, ritual religioso e política? Como foram eles ativados na Revolução Egípcia de 2011? Procurando a essência deste poder na intersecção destes domínios, cada um limitado em teoria, ainda que altamente emotivo na prática performativa, defendo que o poder do canto deriva do seu estatuto liminar, situado entre regra e performação, linguagem e som, indivíduo e grupo, repetição e mudança... vida e morte. O canto veicula valores profundamente sentidos, mas também sacrifica a existência estável pelo poder social. Os cantos são poderosos, argumento, porque existem no limite da regra e da instância, do objeto e do processo, do ser e do tornar-se; eles servem, como o dhikr Sufi (o canto de lembrança), para catalisar a emergência de formações sociais que são evanescentes, ainda que concretas e emocionais, enquanto apontam para valores, simultaneamente mais permanentes e mais abstratos. Os cantos sublinham assim, a contradição entre o que é passageiro e o que permanece. E tornam-se ainda mais poderosos quando vários domínios - política, desporto, música, religião – se sobrepõem, fundidos, em misturas inflamáveis. Isto é o que aconteceu na Revolução do Egito, de 2011 e nas suas consequências, como se ilustra na música de Ramy Essam. A palestra será amplamente ilustrada com exemplos audiovisuais, do Egito e de outros lugares.
Noriko Manabe foi Professora Assistente de Música na Universidade de Princeton e é agora Professora Auxiliar de Estudos Musicais na Universidade de Temple (desde Janeiro de 2016). Mantém tembém atividade no departamento de música da School of Oriental and Asian Studies como Investigadora Associada. A sua primeira monografia, The Revolution Will Not Be Televised: Protest Music After Fukushima, foi recentemente publicada pela Oxford University Press (Novembro de 2015). O seu artigo sobre demonstrações antinucleares foi agraciado com o Waterman Prize da Society for Ethnomusicology. A sua segunda monografia, Revolution Remixed: Intertextuality in Protest Songs, está para sair na Oxford University Press. Manabe tem publicado artigos sobre hip-hop Japonês, a internet móvel, o mercado musical, canções infantis, e música cubana em períódicos tais como Ethnomusicology, Popular Music, Latin American Music Review, Oxford Handbook of Children’s Musical Cultures, Oxford Handbook of Mobile Music Studies, Cambridge Companion to Hip-Hop, e outros. Atualmente co-edita Sonic Contestations of Nuclear Power (com Jessica Schwartz) e The Oxford Handbook of Protest Music (com Eric Drott). A sua investigação tem sido suportada por bolsas do NEH, Kluge, Japan Foundation, e SSRC/JSPS. Manabe integra o corpo editorial da Twentieth-Century Music e é editora contribuinte do Asia-Pacific Journal.
A Intertextualidade da Música de Protesto
Black Lives Matter, pró-democracia em Hong Kong, o movimento antinuclear japonês – a música dos movimentos sociais, recentes e históricos, partilham o uso de intertextualidade. Esta intertextualidade capta a atenção dos ouvintes, com uma canção ou um género familiar, de uma forma que não captaria com uma canção totalmente nova; reduz obstáculos de criação, permitindo que as canções políticas sejam escritas em tempo útil; e funde os sentimentos dos ouvintes acerca dos contextos que ligam a música a temas atuais (Turino). A partir de Genette e Lacasse, formulo uma tipologia de intertextualidade na música de protesto: abordagens hipertextuais incluindo versões (por vezes com textos alterados), remakes de hip-hop, mash-ups, remixes e alegorias; citações mais curtas; práticas paratextuais tais como publicidade; e adoção de estilo arquitextual. Esta tipologia ajuda-nos não só a identificar os métodos utilizados no protesto, mas também a compreender as circunstâncias em que alguns métodos são mais eficazes do que outros. Para ilustrar, comparo exemplos de vários movimentos recentes, examinando a técnica intertextual face ao uso político. Versões de canções com textos alterados recebem ampla distribuição na internet e inspiram a participação massiva em protestos (e.g., “Do You Hear the People Sing,” Hong Kong). As citações são índices de provocação de emoção, como Ferguson testemunha em “Be Free” de J. Cole. As alegorias são preferidas nas gravações em ambientes censoriais ou ditatoriais (e.g. Japão e Brasil). Os músicos adotam géneros musicais para as suas associações (e.g. dança de festival por músicos antinucleares japoneses). Estes métodos intertextuais constroem solidariedade e permitem a comunicação quando o protesto direto é inoportuno. Através desta tipologia, pretendo desenvolver uma compreensão mais profunda dos papéis da música nos movimentos políticos.
Noriko Manabe
17 de Junho - A Intertextualidade da Música de Protesto
Keynote Speakers
Keynote Animators
Mário Correia é diretor do Centro de Música Tradicional Sons da Terra, no âmbito da Associação Portuguesa para o Estudo e Divulgação da Gaita de Foles, que fundou em 2001, com sede na vila fronteiriça de Sendim no planalto mirandês de Trás-os-Montes (Miranda do Douro), em pleno coração do Parque Natural do Douro Internacional. Nascido na Praia da Granja em 1952, Mário Correia dedicou-se desde a juventude, no início da década de 1970, ao estudo, divulgação e crítica do canto de intervenção, das músicas tradicionais, populares, e de expressão folk e étnica, entre outros meios, na revista portuense MC-Mundo da Canção (criada em 1969), da qual se tornou colaborador regular e diretor entre 1976 e 1998. Despertando desde cedo para a ação das redes divulgadoras congéneres europeias e latino-americanas, publicou numerosos artigos em periódicos nacionais e estrangeiros. Realizou assiduamente programas de rádio (RCP/Porto, RDP-Antena 1 e Rádio Nova-Porto/RCP-Lisboa) na década de 1990 e criou a editora Sons da Terra em 1999, dedicada a recolhas musicais da tradição oral portuguesa em 1999. Entre 1990 e 1998 foi responsável pela programação do Festival Intercéltico do Porto e, a partir de 2000 pela organização do Festival Intercéltico de Sendim. É investigador do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da FCSH/NOVA, membro da Academia de Letras de Trás-os-Montes e vice-presidente da Associaçon de Lhengua i Cultura Mirandesa. Ganhor o XII Prémio Europeu de Folklore Agapito Marazuela (Segovia, Espanha, 2007), o Chosco de Oro (Navelgas, Astúrias, 2010) e a Medalha de Mérito Cultural (Governo de Portugal, 2012). De entre os livros que publicou sobre o tema do protesto destacam-se: (1976) Daniel Viglietti: A América Latina Canta e Luta. Porto: Mundo da Canção; (1983) Música Popular Portuguesa: Um Ponto de Partida. Coimbra: Mundo da Canção / Centelha; (1987) Adriano Correia de Oliveira: Vida e Obra. Coimbra: Centelha; (1998) A Música Tradicional na Obra de José Afonso. Amadora: Câmara Municipal; (2012) Adriano Correia de Oliveira: Um Trovador da Liberdade. Porto: Estratégias Criativas; (2012) A Música Tradicional na obra de Adriano Correia de Oliveira. Aveiro: Sons da Terra / AJA Norte / AJA Aveiro; e (2013) As Mulheres Cantadas por José Afonso. Miranda do Douro: Centro de Música Tradicional Sons da Terra.
Vítor Lima
15 de Junho - Performance coral das Heróicas e doutras
Vitor Lima é Maestro Titular do Coro VianaVocale desde 2001, com o qual se tem apresentado em concertos locais e festivais internacionais em Viana do Castelo, Tui, Berceto, Cremona, Piacenza, Tione, Trento, Verona e Milão. Mestre em Ensino da Música pela Universidade Católica Portuguesa, Vítor Lima iniciou os estudos musicais como contratenor na Academia de Música de Viana do Castelo, com Rui Taveira. Frequentou cursos de aperfeiçoamento em canto com José Oliveira Lopes, Matthias Gerchen, Max van Egmond, Lorraine Nubar, Jill Feeldman e ainda com Lute Songs, e Jakob Lindberg. Estudou na Association British Choral Conducting, no Reuno Unido, com Peter Broadbent, Theeres Hibbard e Jo McNally. Paralelamente ao canto, tem desenvolvido uma intensa atividade na área da direção coral. Atualmente exerce funções docentes na Universidade do Minho, na Academia de Música e na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo. Em 2013, com o VianaVocale, registou os cantos tradicionais portugueses da Natividade de Fernando Lopes-Graça em edição discográfica prestando homenagem à liberdade e à cultura popular em Portugal.
Mário Correia
16 de Junho - Construção de redes de acção musical
Maze (André Neves)
17 de Junho - Composição de poesia rap de intervenção
Maze (André Neves) diz que o rap o cativou no início dos anos 90 quando ainda eram as cassetes, na boombox, a fornecer a banda sonora da vida. Ouvi-lo, fê-lo mergulhar na cultura hip-hop, que por sua vez o levou a colorir os muros cinzentos da cidade. Do graffiti e da relação directa com as restantes vertentes começou a escrever rimas. Em 96 embarcou na missão Dealmática!